quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Técnicos estadunidenses concluem que incêndio em Honduras foi “acidental”

Por Elaine Tavares - jornalista
Os agentes da Oficina De Tabaco, Álcool e Fogos Explosivos dos Estados Unidos que foram chamados para investigar o incêndio na penitenciária de Comayagua, Honduras, onde morreram 364 pessoas, entregaram um relatório a embaixadora dos EUA em Honduras, dizendo que o incêndio foi acidental. Segundo o relatório, o fogo começou de uma “chama aberta”, mas eles não sabem dizer onde foi que começou. A conclusão está sendo vista como absolutamente inútil e mentirosa por uma boa parte de hondurenhos que se manifestam nas rádios locais e nos jornais.
Por todo o país as versões que circulam sobre as causas do incêndio se referem, na sua maioria, a um ato criminoso provocado por alguns dos agentes penitenciários. Os sobreviventes alegam que foram os guardas quem iniciaram o fogo jogando gasolina nos prisioneiros, com a clara intenção de matar. Há quem diga que o ato foi provocado para causar a morte de uma figura em especial, o ex-candidato a alcade (prefeito) Jorge Constantino Ypsilanti, que estava no presídio por ter provocado a morte de um cidadão espanhol. Há rumores também de que a governadora da província havia recebido um telefone de um dos presos avisando que se avizinhava uma tragédia. Já os guardas sustentam que o sinistro foi provocado pelos próprios presos. De qualquer sorte, o estudo da agência estadunidense é pífio, pois, na verdade, não trás nenhum esclarecimento.
A penitenciária de Comayagua estava abrigando 856 pessoas, sendo que a metade dos presos sequer tinham ido a julgamento. Muitos deles estavam detidos por pequenos furtos, distúrbios e alguns apenas por serem tatuados, o que os identificaria como parte de alguma pandilha (quadrilha). Conforme contam os familiares a situação da penitenciária era precária, uma vez que tinha sido construída para abrigar apenas 250 pessoas.

O incêndio em Comayagua foi a maior tragédia já acontecida em presídios na América Latina nos últimos anos. Segundo levantamentos do jornal La Prensa, a segunda maior matança de presos aconteceu no Peru em 1986, num motim provocado – segundo as autoridades – por militantes dos grupos políticos Sendero Luminoso e Tupac Amaru, no qual morreram 250 pessoas. Depois veio o massacre do Carandiru, no Brasil, em 1992, onde morreram 111 prisioneiros. Em 1994, 120 pessoas morreram na Venezuela, também num motim. Em Honduras, outro caso de incêndio “providencial” aconteceu em 2004, quando morreram 107 presos na cidade de San Pedro de Sula.

Para a sociedade hondurenha, a conclusão dos técnicos estrangeiros está muito longe da verdade.

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