(Artigo de Nicolás Maduro, Presidente da República Bolivariana da Venezuela, publicado no jornal The New York Times em 1º de abril de 2014, e traduzido por Guilherme Basto Lima, militante das Brigadas Populares)
Os recentes protestos na Venezuela ganharam as manchetes internacionais. Grande parte da cobertura midiática estrangeira distorceu a realidade do meu país, assim como os fatos em torno dos eventos ocorridos.
Nós, venezuelanos, somos orgulhosos de nossa democracia. Construímos um movimento participativo e democrático pela base que garante a distribuição igualitária tanto do poder quanto dos recursos naturais entre nosso povo.
Segundo as Nações Unidas, Venezuela reduziu consistentemente a desigualdade: agora possuímos a menor desigualdade de renda da região. Nós reduzimos enormemente a pobreza – para 25.4 por cento em 2012, segundo dados do Banco Mundial, de um percentual de 49 em 1998; no mesmo período, de acordo com estatísticas do governo, a extrema pobreza diminuiu de 21 para 6 por cento.
Nós criamos sistemas-modelo universais de saúde e educação, gratuitos para nossos cidadãos em todo o território nacional. Nós atingimos essas façanhas em grande parte através da utilização da renda do petróleo venezuelano.
Enquanto nossas políticas sociais melhoraram a vida dos cidadãos em vários aspectos, o governo vem enfrentando, nos últimos 16 meses, desafios econômicos como a inflação e escassez de produtos básicos. Nós seguimos, dentro dos marcos do mercado, buscando soluções através de medidas como o novo sistema de comércio exterior, desenvolvido para diminuir a abrangência do mercado negro. E nós estamos monitorando os negócios para assegurar que os consumidores não sejam enganados e produtos não sejam estocados para fins de especulação. A Venezuela vem lutando também contra um alto índice de criminalidade. Estamos enfrentando este problema com a construção de uma nova força policial nacional, fortalecendo a cooperação entre a comunidade e a polícia e mudando drasticamente nosso sistema prisional.
Desde 1998, o movimento fundado por Hugo Chávez venceu mais de uma dúzia de eleições presidenciais, parlamentares e locais através de um processo que o ex-presidente estadunidense Jimmy Carter classificou como “o melhor do mundo”. Recentemente, o PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela) recebeu expressiva votação nas eleições majoritárias (Dezembro de 2013) sagrando-se vitorioso em 255 dos 337 municípios.
A participação popular na política aumentou consideravelmente na Venezuela durante a década passada. Devido a minha origem sindicalista, acredito profundamente no direito a organização e no dever cívico de promover o triundo da justiça, assegurando que demandas legítimas sejam veiculadas em assembleias e protestos pacíficos.
Aqueles que falam da existência um déficit democrático na Venezuela e que os atuais protestos representam um sentimento geral são desmentidos pelos fatos. Os protestos da oposição são feitos por pessoas oriundas dos segmentos mais ricos da sociedade e que buscam reverter os ganhos do processo democrático que beneficiou a maioria do povo.
Manifestantes oposicionistas agrediram fisicamente e danificaram hospitais, queimaram uma universidade no estado de Táchira e atiraram coquetéis Molotov e pedras nos ônibus. Eles atingiram também outras instituições públicas atirando pedras e morteiros na Suprema Corte, a companhia de telefonia pública CANTV e o escritório da Promotoria Geral da República. Os danos dessas ações custaram milhões de dólares. É por isso que os manifestantes não receberam nenhum apoio nos bairros pobres.
Os manifestantes possuem um único objetivo: a derrubada inconstitucional do governo democraticamente eleito. Líderes da oposição deixaram isso claro quando começaram a campanha em Janeiro, prometendo criar o caos nas ruas. Aqueles que possuem críticas legítimas às condições econômicas e ao índice de criminalidade estão sendo explorados pelos líderes dos protestos, que tentam impor sua agenda violenta e antidemocrática.
Em dois meses, 36 pessoas foram tidas oficialmente como mortas. Nós acreditamos que os manifestantes são diretamente responsáveis por pelo menos metade dessas fatalidades. Seis membros da Guarda Nacional foram assassinados com tiros; outros cidadãos foram mortos enquanto tentavam remover obstáculos colocados pelos manifestantes para bloquear o trânsito.
Um pequeno número do pessoal das forças de segurança também foi acusado de atos violentos que resultaram na morte de algumas pessoas. Estes são eventos lastimáveis, e o governo venezuelano respondeu com a prisão daqueles que eram suspeitos. Nós criamos um Conselho de Direitos Humanos para investigar todos os incidentes relacionados a estes protestos. Cada vítima merece justiça, e cada criminoso – independente de ser um apoiador ou oponente do governo – será responsabilizado por seus atos.
Nos Estados Unidos, os manifestantes são descritos como “pacíficos”; enquanto isso, o governo venezuelano é acusado de reprimi-los violentamente. Segundo essa narrativa, o governo estadunidense está ao lado do povo da Venezuela; na realidade, ele está ao lado dos 1 por cento que desejam fazer nosso país voltar à época onde os 99 por cento eram impedidos de participar da vida política e apenas uma minoria – incluindo empresas estadunidenses – se beneficiava do petróleo venezuelano.
Não podemos esquecer que alguns daqueles que apoiaram a destituição do governo democraticamente eleito da Venezuela em 2002 estão liderando os protestos hoje. Aqueles envolvidos no golpe de 2002 imediatamente dissolveram a Suprema Corte e a legislatura, e rasgaram a Constituição. Aqueles que incitam a violência e hoje tentam semelhantes ações inconstitucionais devem enfrentar o sistema judiciário.
O governo estadunidense apoiou o golpe de 2002 e reconheceu o governo golpista mesmo com seu comportamento antidemocrático. Hoje, a administração Obama gasta anualmente pelo menos 5 milhões de dólares com o apoio a movimentos oposicionistas na Venezuela. Um pedido de 15 milhões adicionais para essas organizações de opositores está agora no Congresso. O Congresso decide também de que forma irá impor sanções à Venezuela. Eu acredito que o povo estadunidense, sabendo a verdade, irá decidir que a Venezuela e seu povo não merecem tal punição, e pedirá a seus representantes que não criem leis para nos sancionar.
O momento pede diálogo e diplomacia. Por toda a Venezuela, nós estendemos a mão para a oposição. E nós aceitamos as recomendações da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) de nos engajar imediatamente em conversas com a oposição. Meu governo também estendeu a mão ao Presidente Obama, expressando nosso desejo de novamente trocar embaixadores. Nós esperamos que sua administração responda gentilmente.
A Venezuela precisa de paz e diálogo para seguir em frente. Nós receberemos bem qualquer um que deseje sinceramente ajudar-nos a alcançar esses objetivos.
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