segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Posicionamento das Brigadas Populares em Florianópolis - Parte 2
 Eleições Municipais 2012: O continuísmo e as falsas alternativas

As eleições municipais de 2012 em Florianópolis já têm um vencedor: sairá vitorioso o projeto de cidade defendido pelo capital imobiliário e empreiteiro, pois conseguiu assegurar que nenhuma das 3 candidaturas com possibilidade de vitória colocará em perigo seu projeto de cidade.
Mas se para os trabalhadores a eleição deste ano não está efetivamente em disputa, então por que o confronto de candidatos e partidos que temos diante nós nas últimas semanas? Para que caminhadas pela cidade, eventos sociais e festivos, programas de televisão e rádio, debates ora mornos ora acalorados e manobras de todo tipo?

O debate entre as candidaturas de Cesar Sousa Júnior (PSD), Gean Loureiro (PMDB) e Ângela Albino (PCdoB) à prefeitura da capital catarinense é a disputa entre partidos e políticos que vivem unicamente da disputa eleitoral do poder. São sedentos pelos cargos, pois se utilizam deles para sobreviver e se reproduzir.
Existe uma segunda razão para esta disputa. Esta segunda razão é muito mais importante, pois é dela que surge a força social destas 3 candidaturas: Gean, César e Ângela tem propostas diferentes para resolver os problemas da burguesia desta cidade. Apesar de ser dominante, ela também é prejudicada por muitos dos problemas que enfrentamos. Assim, estas 3 candidaturas tem propostas diferentes para resolver os dois principais problemas desta burguesia. Quais são estes problemas?
1)                 a necessidade de unir os diversos setores e frações da burguesia local assim como as diversas facções  da classe política local para perpetuar o seu projeto de cidade: através da prefeitura e seu aparato perpetuar a cidade como linha de produção de mercadorias de luxo. Não é a toa que as 3 candidaturas defendem o crescimento da cidade, do turismo e da tecnologia como as principais mercadorias (“virtudes”) que a cidade teria a oferecer.
2)  A necessidade de capturar o apoio passivo das classes populares. Afinal os problemas sociais que enfrentamos diariamente podem-nos levar a um questionamento político deste projeto elitista de cidade. Isto seria questionar o cerne da nossa burguesia. São as classes populares as principais vítimas de problemas como:
- a inflação de aluguéis, especulação imobiliária, segregação sócio-espacial que expulsa os trabalhadores das regiões centrais e das praias lançando-os para as cidades vizinhas;
- a expulsão dos pescadores e demais comunidades tradicionais de localidades históricas ou que tem seus meios de vida (pesca e maricultura) afetados;
- o transporte público caro e ineficiente, a falta de escolas, creches, postos de saúde e demais equipamentos públicos nas comunidades;
- falta de saneamento básico, poluição e a destruição do meio ambiente.
Os problemas são tantos e tamanhos que o padrão tradicional da política das oligarquias locais, com suas churrascadas, galinhadas, campeonatos de dominó e trocas de favores os mais diversos já não dá conta de garantir a apoio desse eleitorado. Portanto, criam novos discursos eleitorais apontando para o social, para o ecológico, para a participação popular tentando com isso empolgar o eleitorado. Nesse jogo de ilusões, estes candidatos acenam com necessidades reais tais como plano diretor participativo, maior controle e fiscalização da expansão da construção civil, tarifa zero para estudantes, licitação do transporte público, construção de mais creches, etc.
Esta aparente renovação pode mobilizar até mesmo setores honestos do movimento popular. Mas se olharmos a história destes 3 candidatos veremos que não estão comprometidos com as soluções reais para os nossos problemas.
Tanto é assim que as articulações e possíveis alianças para o segundo turno já correm por debaixo dos panos. Gean apoiará Ângela ou César? Ângela apoiaria César ou Gean? Independente de quem seja, o certo é que o terceiro colocado apoiará um dos dois primeiros. Isto demonstra que suas diferenças são tão pequenas que não passam de um primeiro turno eleitoral. Demonstra que entre eles não tem diferenças fundamentais no projeto de cidade.
Gean significa a continuidade na prefeitura do grupo de Dário Berger e a defesa aberta dos interesses do capital imobiliário e empreiteiro no crescimento da cidade. Surgido fora dos círculos tradicionais da oligarquia, Dário representou a ascensão do poder econômico nu e cru de um novo empresariado a partir da relação umbilical com gestão dos recursos públicos. Atravessando todas as fronteiras políticas e ideológicas para perpetuar seu gangsterismo político na Prefeitura Municipal, Dário Berger joga suas fichas nesta eleição também para se credenciar como candidato ao governo estadual. Ocorre que, mesmo com todo o apoio financeiro da burguesia local, a candidatura Gean vem apresentando dificuldades para decolar e é tamanho o desespero que até tarifa zero já está defendendo. Acha que esquecemos que ele e Dário Berger espancaram e prenderam o povo quando foi às ruas exigir justamente a Tarifa Zero.
César, representante direto das famílias Amin e Bornhausen, tenta a todo custo esconder suas origens com o discurso de “cidade mais humana”. Com César teremos a retomada do poder das velhas oligarquias da cidade, com suas tradições políticas e ideológicas mais marcadamente de direita. Dotado do carisma de bom moço típico da direita florianopolitana, lapidado desde a juventude no programa de televisão assistencial de seu pai, a campanha de César joga com palavras e imagens escolhidas a dedo pelos marqueteiros para tocar moral e sentimentalmente o eleitorado mais simples. Propostas soltas como a construção de mais creches ou do maior controle sobre o crescimento da cidade são agitadas com intuito de esconder que seu verdadeiro desafio é mostrar que a velha oligarquia está à altura da voracidade do capital empreiteiro e imobiliário tanto quanto o foi a gestão de Dário.
Ângela, a “comunista”, busca de todas as maneiras atingir o objetivo do PCdoB: chegar ao poder em Florianópolis. Para isso, tem feito de tudo para convencer o “empresariado” de que também é digna de confiança, apesar da foice e o martelo.
Assim, suas posições sobre os problemas reais da cidade historicamente ambíguas, tem se tornado ainda mais vagas, ou se colocando diretamente ao lado do capital empreiteiro e imobiliário. Daí também suas reiteradas ausências nos debates promovidos pelo movimento popular neste período eleitoral. Suas declarações públicas sobre a destinação da Ponta do Coral são mais um exemplo disso.
De fato, sua articulação com o capital imobiliário é cada vez maior: já na campanha de 2008, seu partido foi o único que declarou ter recebido dinheiro da construtora Hantei que tenta de todos os modos se apropriar da Ponta do Coral. Desta vez, para a campanha de 2012, Ângela já recebeu R$ 100 mil da empresa WOA Empreendimentos Imobiliários, que doou a mesma quantia para Gean e para César, mostrando bem a idéia de democracia que tem o capital imobiliário e empreiteiro de nossa cidade.
Mas o mais importante é que o projeto do PCdoB para a cidade é "desenvolvimentista": desenvolver o capital acima de tudo. Por isso seu discurso ambíguo, por isso seu discurso de que “há espaço para todos”, de que é “necessário dialogar e forjar consensos”. Este discurso serve na verdade para ocultar a luta de classes existente na cidade, principalmente entre a grande maioria do povo e a especulação imobiliária. Tenta nos convencer que é no diálogo que vamos conseguir frear a ganância das grandes construções, dos shoppings, da destruição de nossa natureza. Tudo isso para, na verdade, esconder a quem serve seu projeto de cidade.
Sua candidatura, por fim, trata-se de uma readequação, de uma retomada de fôlego para o projeto das elites, num cenário em que inúmeras lideranças populares apostarão em disputas por dentro da administração. Não devemos cultivar nenhuma ilusão! É preciso fazer a crítica pública do projeto de Ângela e preparar o povo de Florianópolis para os enfrentamentos que certamente virão num eventual mandato do PCdoB.
Enfim, o capital especulativo e imobiliário percebeu que precisa de dirigentes novos e mais eficientes para ocuparem o poder. Esta equação será definida na urna sem nenhum perigo para a burguesia empreiteira e especulativa. Sem alterar a essência do projeto elitista para Florianópolis. Quem sabe até tornando-o mais eficiente, afinal “avança Floripa”! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário