Posicionamento das Brigadas Populares em Florianópolis
Parte 1: Eleições municipais 2012: o que está em jogo?
Nossos sonhos não cabem nas urnas
EZLN – México
São inúmeros os problemas
enfrentados cotidianamente pelo povo de Florianópolis. Saúde, segurança,
saneamento e transporte estão entre os mais
lembrados e sentidos pela população segundo recentes pesquisas eleitorais.
Estas pesquisas são utilizadas
pelos partidos para formatar o discurso dos candidatos, afinal, para que todos
virem “santinhos” é fundamental que os candidatos apareçam preocupados com os
problemas da população.
Mas será que é realmente para
resolver estes nossos problemas que estes candidatos se apresentam? Será que
alguém é contra as melhorias na saúde, no saneamento, na segurança e no
transporte? É claro que não.
Mas então o que realmente move a
candidatura deste ou daquele? Afinal, o que de fundamental está por trás de
tantas candidaturas para prefeitura de Florianópolis? O que de fato está em
disputa nestas eleições?
Florianópolis, onde a terra vale ouro!
Desde a década de 1970 que a
elite desta cidade percebeu que a melhor forma de lucrar em nossa cidade seria
divulgando aquilo que tem de mais valor: as suas belezas naturais. Para isso
começou uma forte campanha de divulgação da “ilha da magia” para atrair
turistas e migrantes dispostos a pagar muito pela utilização de nossos espaços,
de nossas localidades.
O capital imobiliário e
empreiteiro começou a agir produzindo novas localidades. Os espaços dessa ilha
viraram uma grande matéria-prima para ambos. O objetivo era produzir um espaço
mais agradável, mais “belo”, com mais infra-estrutura para a construção dos
empreendimentos turísticos luxuosos acessíveis apenas para turistas ricos e de
mansões para milionários em busca de tranqüilas casas de veraneio.
O norte é expressão mais acabada
deste projeto para quem a ilha é como uma linha de produção: os espaços
naturais são a matéria-prima, o povo são os trabalhadores e as orlas com os
hotéis, as mansões, as luxuosas “baladas” são a mercadoria final. Consequência
deste projeto de cidade é hoje termos na ilha o terceiro metro quadrado mais caro do país. Jurerê internacional
está atrás somente de Leblon e Ipanema no ranking da especulação imobiliária. Mais do que consequência este é o objetivo dos setores que lucram com isto. E quem são eles?
As grandes construtoras, incorporadoras e empreiteiras em conjunto com as
grandes imobiliárias.
A preponderância destes setores na
economia florianopolitana é evidente. Juntos o capital empreiteiro e
imobiliário representam um quinto do PIB municipal (19%). Sendo que destes, as
atividades “imobiliárias e aluguéis” representam 14%. É a maior parcela
individual de nosso PIB, seguida de “comércio e serviços de manutenção” e
“setor público” ambos com 12%. Ou seja,
um prefeito ou uma câmara de vereadores pode ajudar (ou atrapalhar) o maior
negócio de Florianópolis, que em 2009 movimentou R$1,5 bilhões!
Isto explica o interesse destas
empresas nas eleições. Explica acima de tudo sua generosidade para com os
candidatos. Nas eleições para prefeitura
de 2008 as empresas deste setor doaram R$1,3 milhões nas cidades da grande
Florianópolis (Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu). Sendo que os
prefeitos de Florianópolis, sozinhos, foram agraciados com 70% desse valor.
As construtoras Koerich, Zita,
Endeal, Encalso, Angra, Santa Rita, Engevix, Geotesc, Kilar, Formacco, Hantei,
Dame, OK, Prosul, se mostraram extremamente generosas com os candidatos de
Florianópolis e São José. Também foram extremamente democráticas: Dário e
Djalma Berger, Espiridião Amin, César Souza Jr., Nildão, Ângela Albino,
Fernando Elias e Círio Vandresen, todos foram contemplados, deixando claro que
seus interesses estariam protegidos com qualquer um destes.
Produzir uma cidade de luxo que
sirva somente aos ricos é o projeto dominante na nossa ilha. E como em toda a
fábrica os verdadeiros produtores, aqueles que efetivamente constroem estas
mercadorias, são impedidos de se utilizar dela. Por isso, diariamente temos os
nossos direitos mais básicos afetados. Desde o direito a uma moradia digna para
todos até o acesso a cultura, passando pela segurança pública, pelo transporte
público, pelo trabalho, pela educação, saneamento básico, lazer. Atacam nosso
meio ambiente, o turismo popular e democrático, as formas artesanais de pesca e
maricultura. Passam por cima das leis, compram juízes, órgãos municipais e
ambientais, tudo para que seu projeto seja efetivado. Nada resiste ao apetite
voraz da especulação imobiliária.
Esta hegemonia do capital
empreiteiro e imobiliário da nossa cidade em conjunto com seus dirigentes
políticos só será derrotada pelo povo organizado na luta pelos seus interesses.
Os movimentos sociais e comunitários dos trabalhadores é que poderão
efetivamente construir uma nova maioria política nesta cidade e impor um
projeto democrático e popular.
No entanto, estamos hoje muito
longe dessa possibilidade. A desorganização e desmobilização são evidentes. O
oportunismo político através da lógica do apadrinhamento consegue hoje dirigir,
inclusive, muitas periferias, sindicatos e movimentos culturais da nossa
cidade.
Nestas eleições estamos limitados
por nossa própria fragilidade. Quem ganha com isso tudo, principalmente a especulação imobiliária, está
tranquilo. Nenhuma das 3 candidaturas a prefeitura com efetivas chances de
vitória representam um risco. O centro do poder econômico e político da nossa
cidade não está em perigo nestas eleições. Trata-se de uma disputa já ganha, de
uma farsa, de um verniz de “democracia” necessário para legitimar o próximo
prefeito ou prefeita. Por isso a campanha está tão patética, tão monótona, tão
deprimente. Por isso a frase mexicana nunca foi tão verdadeira: nossos sonhos
não cabem nas urnas.
Nossa atual situação eleitoral é
expressão fiel dessa nossa fragilidade. Assim como o atual prefeito e a atual
câmara de vereadores também o são. Não existe cabeça sã sem corpo forte.
Enquanto não houver uma forte reorganização popular não mudaremos o quadro
político-eleitoral de nossa cidade. O momento é de organização, organização e
organização.
Exemplos como o Fórum das
Cidades, o movimento ponta do coral 100% pública, o movimento pelo saneamento
básico, a mobilização de comunidades empobrecidas e em áreas de risco na luta
por moradia digna são exemplos do quanto e como a luta e organização popular
podem avançar em Florianópolis. É para esta tarefa que estamos completamente
lançados.
Todo poder ao povo!
Pátria livre: venceremos!
Parabéns, esse texto merece ampla divulgação na cidade.
ResponderExcluirSó uma dúvida: onde é possível obter os dados de doação das campanhas à prefeitura (valores e empresas)?
Abraço!
Pode pesquisar aqui: www.tse.jus.br
ExcluirAbraço!