Posicionamento das Brigadas Populares em
Florianópolis - Parte
2
Eleições Municipais 2012: O continuísmo e as
falsas alternativas
As eleições municipais
de 2012 em Florianópolis já têm um vencedor: sairá vitorioso o projeto de
cidade defendido pelo capital imobiliário e empreiteiro, pois conseguiu
assegurar que nenhuma das 3 candidaturas com possibilidade de vitória colocará
em perigo seu projeto de cidade.
Mas se para os
trabalhadores a eleição deste ano não está efetivamente em disputa, então por
que o confronto de candidatos e partidos que temos diante nós nas últimas
semanas? Para que caminhadas pela cidade, eventos sociais e festivos, programas
de televisão e rádio, debates ora mornos ora acalorados e manobras de todo
tipo?
O debate entre as
candidaturas de Cesar Sousa Júnior (PSD), Gean Loureiro (PMDB) e Ângela Albino (PCdoB)
à prefeitura da capital catarinense é a disputa entre partidos e políticos que
vivem unicamente da disputa eleitoral do poder. São sedentos pelos cargos, pois
se utilizam deles para sobreviver e se reproduzir.
Existe uma segunda
razão para esta disputa. Esta segunda razão é muito mais importante, pois é
dela que surge a força social destas 3 candidaturas: Gean, César e Ângela tem propostas diferentes para resolver os
problemas da burguesia desta cidade. Apesar de ser dominante, ela também é
prejudicada por muitos dos problemas que enfrentamos. Assim, estas 3 candidaturas
tem propostas diferentes para resolver os dois principais problemas desta
burguesia. Quais são estes problemas?
1)
a necessidade de unir os diversos
setores e frações da burguesia local assim como as diversas facções da classe política local para perpetuar o seu
projeto de cidade: através da prefeitura e seu aparato perpetuar a cidade como
linha de produção de mercadorias de luxo. Não é a toa que as 3 candidaturas
defendem o crescimento da cidade, do turismo e da tecnologia como as principais
mercadorias (“virtudes”) que a cidade teria a oferecer.
2) A necessidade de capturar o apoio passivo das
classes populares. Afinal os problemas sociais que enfrentamos diariamente
podem-nos levar a um questionamento político deste projeto elitista de cidade. Isto
seria questionar o cerne da nossa burguesia. São as classes populares as
principais vítimas de problemas como:
- a inflação de
aluguéis, especulação imobiliária, segregação sócio-espacial que expulsa os
trabalhadores das regiões centrais e das praias lançando-os para as cidades
vizinhas;
- a expulsão dos
pescadores e demais comunidades tradicionais de localidades históricas ou que
tem seus meios de vida (pesca e maricultura) afetados;
- o transporte público
caro e ineficiente, a falta de escolas, creches, postos de saúde e demais
equipamentos públicos nas comunidades;
- falta de saneamento
básico, poluição e a destruição do meio ambiente.
Os problemas são tantos
e tamanhos que o padrão tradicional da
política das oligarquias locais, com suas churrascadas, galinhadas,
campeonatos de dominó e trocas de favores os mais diversos já não dá conta de garantir a apoio desse
eleitorado. Portanto, criam novos discursos eleitorais apontando para o social,
para o ecológico, para a participação popular tentando com isso empolgar o
eleitorado. Nesse jogo de ilusões, estes candidatos acenam com necessidades
reais tais como plano diretor participativo, maior controle e fiscalização da
expansão da construção civil, tarifa zero para estudantes, licitação do
transporte público, construção de mais creches, etc.
Esta aparente renovação
pode mobilizar até mesmo setores honestos do movimento popular. Mas se olharmos a história destes 3 candidatos veremos que não estão comprometidos com as soluções reais para os
nossos problemas.
Tanto é assim que as
articulações e possíveis alianças para o segundo turno já correm por debaixo
dos panos. Gean apoiará Ângela ou César? Ângela apoiaria César ou Gean?
Independente de quem seja, o certo é que o terceiro colocado apoiará um dos
dois primeiros. Isto demonstra que suas diferenças são tão pequenas que não
passam de um primeiro turno eleitoral. Demonstra que entre eles não tem
diferenças fundamentais no projeto de cidade.
Gean significa a
continuidade na prefeitura do grupo de Dário Berger e a defesa aberta dos
interesses do capital imobiliário e empreiteiro no crescimento da cidade.
Surgido fora dos
círculos tradicionais da oligarquia, Dário representou a ascensão do poder
econômico nu e cru de um novo empresariado a partir da relação umbilical com gestão
dos recursos públicos. Atravessando todas as fronteiras políticas e ideológicas
para perpetuar seu gangsterismo político
na Prefeitura Municipal, Dário Berger joga suas fichas nesta eleição também
para se credenciar como candidato ao governo estadual. Ocorre que, mesmo com
todo o apoio financeiro da burguesia local, a candidatura Gean vem apresentando
dificuldades para decolar e é tamanho o desespero que até tarifa
zero já está defendendo. Acha que esquecemos que ele e Dário Berger espancaram
e prenderam o povo quando foi às ruas exigir justamente a Tarifa Zero.
César, representante
direto das famílias Amin e Bornhausen, tenta a todo custo esconder suas origens
com o discurso de “cidade mais humana”. Com César teremos a retomada do poder
das velhas oligarquias da cidade, com suas tradições políticas e ideológicas
mais marcadamente de direita. Dotado do carisma de bom moço típico da direita
florianopolitana, lapidado desde a juventude no programa de televisão
assistencial de seu pai, a campanha de César joga com palavras e imagens
escolhidas a dedo pelos marqueteiros para tocar moral e sentimentalmente o
eleitorado mais simples. Propostas soltas como a construção de mais creches ou
do maior controle sobre o crescimento da cidade são agitadas com intuito de
esconder que seu verdadeiro desafio é mostrar que a velha oligarquia está à
altura da voracidade do capital empreiteiro e imobiliário tanto quanto o foi a gestão
de Dário.
Ângela, a “comunista”, busca de
todas as maneiras atingir o objetivo do PCdoB: chegar ao poder em
Florianópolis. Para isso, tem feito de tudo para convencer o “empresariado” de
que também é digna de confiança, apesar da foice e o martelo.
Assim, suas posições sobre os
problemas reais da cidade historicamente ambíguas, tem se tornado ainda mais
vagas, ou se colocando diretamente ao lado do capital empreiteiro e imobiliário.
Daí também suas reiteradas ausências nos debates promovidos pelo movimento
popular neste período eleitoral. Suas declarações públicas sobre a destinação
da Ponta do Coral são mais um exemplo disso.
De fato, sua articulação com o
capital imobiliário é cada vez maior: já na campanha de 2008, seu partido foi o
único que declarou ter recebido dinheiro da construtora Hantei que tenta de
todos os modos se apropriar da Ponta do Coral. Desta vez, para a campanha de
2012, Ângela já recebeu R$ 100 mil da empresa WOA Empreendimentos
Imobiliários, que doou a mesma quantia para Gean e para César, mostrando bem a
idéia de democracia que tem o capital imobiliário e empreiteiro de nossa cidade.
Mas o mais importante é que o
projeto do PCdoB para a cidade é "desenvolvimentista": desenvolver o capital
acima de tudo. Por isso seu discurso ambíguo, por isso seu discurso de que “há
espaço para todos”, de que é “necessário dialogar e forjar consensos”. Este
discurso serve na verdade para ocultar a luta de classes existente na cidade,
principalmente entre a grande maioria do povo e a especulação imobiliária.
Tenta nos convencer que é no diálogo que vamos conseguir frear a ganância das
grandes construções, dos shoppings, da destruição de nossa natureza. Tudo isso
para, na verdade, esconder a quem serve seu projeto de cidade.
Sua candidatura, por fim, trata-se
de uma readequação, de uma retomada de fôlego para o projeto das elites, num cenário em que inúmeras lideranças
populares apostarão em disputas por dentro da administração. Não devemos cultivar
nenhuma ilusão! É preciso fazer a crítica pública do projeto de Ângela e
preparar o povo de Florianópolis para os
enfrentamentos que certamente virão num eventual mandato do PCdoB.
Enfim, o capital
especulativo e imobiliário percebeu que precisa de dirigentes novos e mais
eficientes para ocuparem o poder. Esta equação será definida na urna sem nenhum
perigo para a burguesia empreiteira e especulativa. Sem alterar a essência do
projeto elitista para Florianópolis. Quem sabe até tornando-o mais eficiente,
afinal “avança Floripa”!
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