quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A promessa de um prefeito irresponsável e uma necessidade básica

Carta pública do movimento de moradia de Florianópolis sobre o desalojamento no José Nitro, em São José (SC)

A promessa de um dos candidatos a prefeito de São José (SC), no início deste mês de outubro, destruiu os sonhos e desestruturou a rotina de cerca de 200 famílias do bairro José Nitro, Jardim Zanelatto e seu entorno.


Na noite de quarta-feira, 3 de outubro, houve uma reunião na Igreja da Assembleia de Deus do bairro em que estiveram presentes o atual prefeito de São José e, então, candidato à reeleição, Djalma Berger; o vereador e também candidato a reeleição Sanderson de Jesus; um fotografo da campanha; e algumas famílias da região. Essas pessoas foram incentivadas por Djalma Berguer a ocupar um terreno da Imobiliária Suvec Ltda., que fica localizado no bairro Serraria e cuja proprietária é Floribela Becker. Garantiu que ele seria desapropriado pela prefeitura para o usufruto das famílias e sustentou sua promessa com a assinatura simbólica do Decreto nº 37.180/2012 de 21 de setembro de 2012, que trata da desapropriação do local.

Logo após a reunião, entre 150 e 200 famílias ocuparam o terreno, construindo barracos no local. Muitos entregaram as casas nas quais viviam de aluguel, outros simplesmente se endividaram gastando suas poucas economias para comprar madeira e outros materiais para finalmente conquistar o sonho da casa própria, prometido pelo prefeito.

Na noite de quinta-feira, 04 de outubro, realizou-se um comício numa quadra de esportes localizada na Avenida das Torres, nas imediações do terreno ocupado. Estavam presentes o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, o candidato a vice-prefeito de São José, Padre Círio Vandresen, o candidato a vereador pelo PDT, Wallace Avanir de Souza (conhecido por Tetê), e as famílias da localidade.

No final do evento, o tema da ocupação foi tratado por Dário Berger. Ele reforçou a garantia dada por seu irmão Djalma e pediu às famílias que não deixassem mais gente entrar na ocupação. Disse que na segunda-feira seguinte, 8 de outubro (e um dia após as eleições municipais), os moradores receberiam a visita de funcionários da prefeitura de São José para o cadastramento das casas e dos moradores.

Na sexta-feira, 05 de outubro, o decreto de desapropriação do terreno nº 37.180/2012 foi revogado –antes mesmo do pleito, que aconteceu no domingo.
Ao contrário do prometido, fiscais da prefeitura apareceram na segunda-feira rondando o terreno e ameaçando os moradores da ocupação com um despejo violento caso eles não deixassem o local.

A ameaça foi concretizada na quarta-feira, 10 de outubro, por volta de 7h da manhã, quando se iniciou o despejo dos moradores do terreno ocupado. A presença de 210 policiais fortemente armados, helicóptero e máquinas retroescavadeiras para a destruição das moradias assustou os moradores, que não resistiram à ação.

Não houve negociação: foi estipulado o prazo de apenas uma hora para que as moradias fossem desocupadas.

Com o prazo cumprido, as máquinas derrubaram os barracos presentes no terreno. Os relatos indicam que muitos não tiveram tempo de retirar seus móveis e pertences das moradias e perderam os poucos bens que possuíam.

Após o despejo, os moradores se reorganizaram em assembleia na frente da igreja da Assembleia de Deus –o mesmo local onde tudo começou. Conseguiu-se negociar junto à secretaria de assistência social e da secretaria de segurança pública de São José um alojamento no Ginásio Municipal do Jardim Zanelatto para as famílias que não tinham como se abrigar.

Desde então, há uma semana, essas famílias sofrem com diversas ameaças, inclusive do conselho tutelar, que ameaça recolher os filhos dos desabrigados, e com o descaso de funcionários da saúde pública, que recusam atendimento médico pela falta de comprovante de residência.

É importante ressaltar: a demagogia e irresponsabilidade de Djalma Berger, desesperado por votos, precipitou um problema que já era iminente: a falta de política habitacional para o povo pobre de São José.

A família Berger é duplamente responsável pela atual situação. Em primeiro lugar, por não ter construído ao longo de 12 anos de governo municipal casas populares suficientes para abrigar as necessidades de seu povo; e, principalmente, por ter tentado manipular o povo às vésperas da eleição e, dessa forma, ter criado um caos na vida de muitas famílias.

Portanto, é urgente que o responsável (Djalma Berger) abra um canal de diálogo com as famílias e apresente a única proposta que pode resolver definitivamente o problema destas famílias: a destinação de um terreno para assentamento.

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