Carta pública do movimento de moradia de Florianópolis sobre o
desalojamento no José Nitro, em São José (SC)
A promessa de um
dos candidatos a prefeito de São José (SC), no início deste mês de outubro,
destruiu os sonhos e desestruturou a rotina de cerca de 200 famílias do bairro
José Nitro, Jardim Zanelatto e seu entorno.
Na noite de
quarta-feira, 3 de outubro, houve uma reunião na Igreja da Assembleia de Deus
do bairro em que estiveram presentes o atual prefeito de São José e, então,
candidato à reeleição, Djalma Berger; o vereador e também candidato a reeleição
Sanderson de Jesus; um fotografo da campanha; e algumas famílias da região.
Essas pessoas foram incentivadas por Djalma Berguer a ocupar um terreno da
Imobiliária Suvec Ltda., que fica localizado no bairro Serraria e cuja
proprietária é Floribela Becker. Garantiu que ele seria desapropriado pela
prefeitura para o usufruto das famílias e sustentou sua promessa com a
assinatura simbólica do Decreto nº 37.180/2012 de 21 de setembro de 2012, que
trata da desapropriação do local.
Logo após a
reunião, entre 150 e 200 famílias ocuparam o terreno, construindo barracos no
local. Muitos entregaram as casas nas quais viviam de aluguel, outros simplesmente
se endividaram gastando suas poucas economias para comprar madeira e outros
materiais para finalmente conquistar o sonho da casa própria, prometido pelo
prefeito.
Na noite de
quinta-feira, 04 de outubro, realizou-se um comício numa quadra de esportes
localizada na Avenida das Torres, nas imediações do terreno ocupado. Estavam
presentes o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, o candidato a
vice-prefeito de São José, Padre Círio Vandresen, o candidato a vereador pelo
PDT, Wallace Avanir de Souza
(conhecido por Tetê), e as famílias da localidade.
No final do
evento, o tema da ocupação foi tratado por Dário Berger. Ele reforçou a
garantia dada por seu irmão Djalma e pediu às famílias que não deixassem mais
gente entrar na ocupação. Disse que na segunda-feira seguinte, 8 de outubro (e
um dia após as eleições municipais), os moradores receberiam a visita de
funcionários da prefeitura de São José para o cadastramento das casas e dos
moradores.
Na sexta-feira,
05 de outubro, o decreto de desapropriação do terreno nº 37.180/2012 foi
revogado –antes mesmo do pleito, que aconteceu no domingo.
Ao contrário do
prometido, fiscais da prefeitura apareceram na segunda-feira rondando o terreno
e ameaçando os moradores da ocupação com um despejo violento caso eles não
deixassem o local.
A ameaça foi
concretizada na quarta-feira, 10 de outubro, por volta de 7h da manhã, quando
se iniciou o despejo dos moradores do terreno ocupado. A presença de 210
policiais fortemente armados, helicóptero e máquinas retroescavadeiras para a
destruição das moradias assustou os moradores, que não resistiram à ação.
Não houve
negociação: foi estipulado o prazo de apenas uma hora para que as moradias
fossem desocupadas.
Com o prazo
cumprido, as máquinas derrubaram os barracos presentes no terreno. Os relatos
indicam que muitos não tiveram tempo de retirar seus móveis e pertences das
moradias e perderam os poucos bens que possuíam.
Após o despejo,
os moradores se reorganizaram em assembleia na frente da igreja da Assembleia
de Deus –o mesmo local onde tudo começou. Conseguiu-se negociar junto à
secretaria de assistência social e da secretaria de segurança pública de São
José um alojamento no Ginásio Municipal do Jardim Zanelatto para as famílias
que não tinham como se abrigar.
Desde então, há
uma semana, essas famílias sofrem com diversas ameaças, inclusive do conselho
tutelar, que ameaça recolher os filhos dos desabrigados, e com o descaso de
funcionários da saúde pública, que recusam atendimento médico pela falta de
comprovante de residência.
É importante
ressaltar: a demagogia e irresponsabilidade de Djalma Berger, desesperado por
votos, precipitou um problema que já era iminente: a falta de política
habitacional para o povo pobre de São José.
A família Berger
é duplamente responsável pela atual situação. Em primeiro lugar, por não ter
construído ao longo de 12 anos de governo municipal casas populares suficientes
para abrigar as necessidades de seu povo; e, principalmente, por ter tentado
manipular o povo às vésperas da eleição e, dessa forma, ter criado um caos na
vida de muitas famílias.
Portanto, é
urgente que o responsável (Djalma Berger) abra um canal de diálogo com as
famílias e apresente a única proposta que pode resolver definitivamente o
problema destas famílias: a destinação de um terreno para assentamento.
ASSINATURAS
Famílias
despejadas da Comunidade Zé Nitro
COM APOIO
DAOM/UDESC
Brigadas
Populares
CSP-ConLutas
Sind Bancários
PT-Estadual
MST
Sind Saude /SC
Papaquara
Gab Sgt Amauri
Soares
C C Luiz Carlos
Prestes
CMAS-Fórum da Cidade
MNU/SC
DAOM/UDESC
SINDPREVS
Moradores do
Morro do Maciço da Cruz
AGB - Associação
dos Geógrafos Brasileiros
MMTU/SC
MPL
Coletivo
Anarquista Bandeira Negra
Florianópolis, 17
de outubro de 2012.
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